Eu tava na casa da Céu e do Marco Polo. Ele e a Maria tinham
descido pra comprar bebida. Preciso de outros amigos. Faltou luz. Os dois
tinham saído há uns vinte minutos. Mas depois que a luz faltou eles demoraram ainda um bom tempo. Ficamos eu e Céu no escuro. Ela disse que ia catar uma lanterna.
Emprestei meu celular pra ela ver por onde andava. Voltou com uma lanterna
acesa. Devolveu meu celular. Ela perguntou se eu já tinha escutado Dirty
Projectors. Eu falei que não. Ela disse que eles tinham um disco com a Bjork
que era muito bom e que ia botar pra eu ouvir. Lembrei a ela que não tinha
energia. Ela falou que tinha um disc man. Pensei caralho alguém ainda tem isso.
Ela me botou pra ouvir. Beautiful Mother, que é a que ela mais gosta junto com
uma outra aí, a penúltima. É meio bonita e meio bizarra: tem a ver com a Bjork
mesmo, eu digo. Ela diz que não é música dela. Eu digo ah. Ela então põe a mão
no meu joelho. Estamos sentadas, uma de frente pra outra e ela põe a mão no meu
joelho. O polegar roça indo e vindo. Penso ih caralho. Estou olhando pra baixo.
A música vai acabando. Ela me chama. Levanto a cabeça devagar. A lanterna está
no lugar do seu rosto. Só vejo um clarãozinho que apaga seu rosto e me dói os
olhos. Fico muda ainda que quase fale. O rumor do fone na base do pescoço. Ela não diz nada.
É o polegar roçando, o silêncio, o rosto apagado e a dor nos olhos. Isso dura
algum tempo. Ultrapassa o constrangimento e vira outra coisa. A luz volta,
coisas estalam, sons voltam a vibrar. A cena de repente é ridícula e
inofensiva. Eu rio. Ela ri com algum atraso. Apaga a lanterna e a deixa na
cômoda. Maria e Marco Polo aparecem, com Smirnoff e suco. Ficaram presos no
elevador. Marco faz alguma piada sugerindo que eles talvez tenham trepado no
elevador. Maria o empurra rindo e diz ah para. Eu deixo claro que me interesso mais no disco que neles. Céu ainda ri de alguma coisa.
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