sábado, 17 de maio de 2014

sonho de marco

Bom, foi por causa de um sonho. Eu costumava ter um sonho que se repetia várias vezes. Era mais pra um pesadelo, pra ser honesto. Começou logo depois que eu li uma poesia esquisita, eu comecei a ter esse sonho, pesadelo, né... A poesia falava de terra, de bicho apodrecendo, coisas assim, tinha um verso que era sobre a teta da terra... é, da teta da terra mesmo, tipo, mãe-terra amamentando. Isso. Bom, eu li essa poesia, não sei de quem é, e fiquei meio assustado, ela falava muitas coisas estranhas, falava de doenças venéreas lá pelo meio, só coisas assim, nojentas e pútridas e doentes, sabe? E daí comecei a ter esse sonho, pesadelo, né, que estou ali naquele mato próximo, naquele terreno em volta, e estou só de cueca, com frio e descalço em cima daquela terra suja pra caralho que tem ali, com medo de pegar alguma doença terrível, leptospirose, peste, bicho-do-pé, diarreia, não sei, essas coisas de mendigo, então eu vou até a casa, têm uns brilhos que aparecem aqui e ali e eu sei que não devo ligar pra eles, que eles estão ali pra me enganar, é o mundo em volta tentando fingir alguma coisa que eu não devo dar atenção, ignorar e seguir reto até a casa - e então eu vejo o palacete, imenso na noite, está de noite. Eu caminho até lá, ainda com frio, mas suando, sabe quando você joga futebol em dia frio e aí meio que está com calor por conta do exercício, mas se tira a roupa fica com frio por causa do vento no suor? Era essa a sensação. E eu sigo até o palacete, e entro, e vejo que o lugar é imenso mesmo, um palácio mesmo, mas todo abandonado. E eu sei que tenho que subir a escada, e eu subo, não sei quantos andares eu subo, e quando chego num andar lá, não sei qual, não pensava nisso no sonho, eu vejo a maria, e ela não parece me ver, está de costas, andando com um pé na frente do outro, como se se equilibrasse numa corda, mas está só de calcinha, ela não veste mais nada, está só de calcinha, que aliás é uma calcinha de renda que eu já vi ela usando, meio azul-piscina, enfim, ela está andando assim de costas e não me vê e eu não quero que ela me veja, porque quero aproveitar aquele momento e porque ela iria brigar comigo, ficar puta, sei lá, e fico assim meio parado, olhando pra ela seminua andando olhando pros pés, e, num certo momento, eu percebo que ela já percebeu que eu estou ali, ela não chegou a olhar pra mim, mas já percebeu que eu estou ali, e nesse exato momento ela para de andar daquele jeito e vai pra um quarto no fundo, então eu sigo ela, porque parece, do jeito que ela vai, que ela está meio me chamando, ou só porque é o que eu quero fazer mesmo. Mas quando chego no quarto não vejo ela. A cama está vazia, as cortinas fechadas, o quarto tem cheiro forte de mofo, a cortina está muito mofada, o chão está comido pelos cupins, cheio de farelo de madeira, pisar nele parece andar em cima da sujeira de anos, e está repleto de revistas largadas, roupas e panos velhos, num dos cantos restos de comida: feijão com arroz e frango, tudo velho, apodrecendo em cima da madeira há anos, cheirando mal, cheio de vermes compridos andando e no meio dessa comida velha e podre tem um olho. Um olho humano muito nojento. Eu começo a ficar com medo, o cheiro está mais forte, tudo parece estar mofado, e eu começo a ouvir vozes que vem de trás da porta do banheiro, mas a porta está trancada, eu nem preciso tentar abrir porque sei que está trancada, não dá pra entender o que as vozes falam, é uma voz só, pra ser mais exato, mas não sei o que ela fala, fala tudo embolado, não dá pra entender, eu suo muito e sinto que pisei numa poça, olho e vejo que tem água vindo por debaixo da porta do banheiro, como quando eu era criança e brincava com a céu de encher o banheiro, alagava tudo e nossos pais só percebiam quando a água passava por debaixo da porta, daí eles batiam na porta e falavam pra fechar a água se não ia ter que parar de tomar banho, e depois a gente até aprendeu a colocar o tapete no vão da porta do banheiro pra vedar por mais tempo; e então eu fico com medo pra caralho, começo a me sentir mal, me sentir meio sem roupa só de cueca e percebo que a maria está na cama, debaixo do lençol, meio escondida, acho que ela não sabe que eu entrei no quarto no fim das contas, eu entro sorrateiramente por debaixo dos lençóis sem ela me ver e vou devagar encaixando por trás dela, tipo de conchinha, sabe, e tenho uma sensação dupla de imenso prazer e de um pouco de nojo, porque a cama está imunda, dá pra sentir a poeira debaixo da coberta, os ácaros, os bichos, uma coisa úmida mais embaixo, mas eu não me importo e vou me encaixando mais com a maria, passando o braço por baixo dela e o outro por cima, abraçando na altura dos peitos, claro, né, e fico com um tesão fodido, ela não se move muito, mas quando se move é pra se acomodar melhor, então beleza, e daí começo a tirar a calcinha dela e ela se vira pra me beijar e não é mais a maria, é a céu e eu não sei o que fazer, porque meio que não parece importante na hora, mas com certeza meu interesse pela situação diminuí drasticamente e todo o desconforto da sujeira da cama, do fedor do lugar, dos bichos mortos nojentos, da água que vai melando todo o chão, da voz sibilante, do mofo que cresce na cortina, essas coisas todas parecem bem mais graves agora e me atrapalham bem mais em focar na situação, a céu vem a toda pra cima de mim e eu deixo, mas começo a engasgar, ela fica com uma cara meio jocosa, como quem diz, não vai dar conta?, como quem duvida, ou como quem saca que eu vou broxar, e eu percebo que estou broxando, mas tipo, não tem a ver com falta de virilidade, macheza, nada, é só porque tá tudo errado, aquilo me incomoda, mas a céu sobe por cima de mim e eu não consigo me levantar, nem sombra de tesão, e eu me sinto seriamente asfixiado, todo aquele mofo, e cheiro de cigarro, e ela insiste em meio que me sufocar pra eu sentir mais forte o orgasmo, mas eu não quero mais aquilo e a gente meio que começa a brigar, e eu sou mais forte, claro, então eu viro por cima e inverto a situação e começo a sufocar ela e pego um travesseiro e sufoco ela pra valer, ela se debate, eu estou suando a vera, é muito esforço, e eu sei que se ela morrer não é de verdade, sabe, tipo, eu meio que sei que é um sonho, embora eu não pense isso na hora, mas sinto que a morte não é tão grave quanto morrer de verdade, e então não me importo, eu sufoco ela até a morte e ela se debate, me bate, e eu espero ela parar de se mexer, e, quando ela para eu tiro o travesseiro. Mas não é ela que está debaixo. É essa menina. L.
Sempre que eu sonho isso, eu meio que já sei o que vai acontecer, como se seguisse um mesmo roteiro que eu já conheço mas é inevitável, e eu meio que quero segui-lo até o fim, principalmente a parte do deitar com a maria, e eu meio que fico olhando pra ela incessantemente pra ela não virar a céu sem que eu veja, mas, de uma forma ou de outra, ela sempre vira, e sempre termina do mesmo jeito.
Mas isso não quer dizer nada, né?

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